O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), criticou, no começo do mês, a instalação da CPI da Pandemia na Casa vizinha, o Senado, por considerar que não era hora de apontar o dedo para ninguém.
No dia em que a comissão foi instalada, e definiu que a relatoria seria entregue a Renan Calheiros (MDB-AL), seu conterrâneo e concorrente em Alagoas —e após um imbróglio judicial que durou menos de 24 horas— duas peças-chave do governo deram sinais de que, diferentemente do que diz o deputado aliado de Jair Bolsonaro, a hora para a devassa, como têm sido chamados os trabalhos, já passou faz tempo.
Primeiro foi Paulo Guedes, ministro da Economia que colocou em risco os acordos de cooperação com a China, base dos fabricantes de insumos para vacina, ao dizer que os chineses “inventaram o vírus” e que seu imunizante, responsável por 8 em cada 10 brasileiros vacinados, é menos efetiva do que o dos EUA. Uma aula de diplomacia do coice —mas uma aula alinhada com o que dizia seu chefe quando ele garantia que não compraria nada que viesse do país asiático. Tudo isso enquanto seu governo rejeitava, em setembro, a aquisição das vacinas da americana Pfizer, tão elogiadas agora pelo Posto Ipiranga.
Na mesma reunião, o ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, admitiu aos colegas que precisou tomar vacina escondido porque “a orientação era todo mundo ir para casa”. “Não tenho vergonha, não. Eu tomei e vou ser sincero porque eu, como qualquer ser humano, eu quero viver. (…) E se a ciência, a medicina fala que é a vacina, quem sou eu para contrapor?”.
Nem um nem outro sabia que a conversa estava sendo transmitida pelas redes do Planalto. Pelo tom, Ramos parecia descrever um ato de transgressão com potencial de tirar o chefe do sério. Como se descrevesse uma incursão por alguma biqueira em Brasília, e não a um posto de saúde.