Quando falamos em lockdown, temos que lembrar que essa medida só vai funcionar em condições adequadas para fazê-lo de forma que seja eficiente. O lockdown, que trata do isolamento absoluto dos cidadãos, só será efetivo quando as pessoas envolvidas puderem ter acesso aos suprimentos básicos, que garantam a sobrevivência nas condições de isolamento. E, como se sabe, isso não é possível, em especial para as famílias.
Em minhas andanças, em comunidades nas regiões do Paraná, tenho observado que, neste período de pandemia, o lockdown se tornou um remédio muito amargo para as famílias que vivem na periferia. A decretação de uma medida extrema, fez com que essas famílias ficassem aglomeradas dentro de casa, padecendo da falta dos recursos básicos e importantes para suprir as necessidades dos seus filhos. Isso levou os moradores, em muitas comunidades, a compartilharem suas refeições, e os impediu de saírem para ganhar o pão que sustentaria a família.
Deparei-me com situações dramáticas de profissionais que ficaram sem renda, como os autônomos que foram impedidos de trabalhar e entraram em desespero, e, em muitos casos foram levados à depressão. Ouvi histórias da diarista que não pode trabalhar, do jardineiro que ficou contrariado dentro de casa, da cabelereira e da manicure que não puderam atender suas clientes, e tantas outras histórias que falam de miséria e de dificuldades que já existiam e foram agravadas pelo lockdown.
Aglomerados dentro de casa, muitos foram contaminados, e há registros de aumento da violência doméstica e até suicídios causados pela depressão. Nessas comunidades, sempre há alguém que sai para tentar ganhar o pão do dia e, eventualmente, traz o vírus e acaba por contaminar a família que já vive em condições de aglomeração. São pessoas que precisam do transporte público, normalmente lotados e negligenciados pelos gestores públicos.
Para essa população carente, levamos máscaras de proteção, álcool em gel e produtos de higiene pessoal para manter as mãos limpas, mas, neste período de pandemia, os alimentos são os produtos mais aguardados como doações, para matar a fome e alimentar toda a família. Desde o ano passado, tivemos aumento das demandas, especialmente por alimentos. E hoje, pessoas que antes doavam ao Provopar, estão solicitando cestas básicas para suprir suas carências.
Precisamos sim enfrentar este problema! Dar condições de trabalho com segurança para essas pessoas. Aumentar a frota de ônibus nas linhas do transporte coletivo e ampliar os horários de atendimento ao público nos estabelecimentos comerciais. Temos que incentivar o distanciamento social e o uso de produtos e equipamentos de proteção individual, e não podemos submeter a população vulnerável à política do “fica em casa”.
A realidade da maioria das famílias que ocupa as comunidades que conheço está muito difícil, com a falta dos mais básicos itens para sobrevivência. É urgente e fundamental que o poder público atue para minimizar o sofrimento dessas famílias. Por isso, assim como eu, quem está na linha frente, na batalha do atendimento emergencial às famílias vulneráveis, sabe que o lockdown simplesmente, definitivamente não funciona!
Carlise Kwiatkowski
Presidente do Programa de Voluntariado do Paraná