Vamos combinar que informações mentirosas, mais conhecidas na atualidade por “fake news”, existem desde sempre, tendo em vista ser da natureza humana a capacidade de mentir, dissimular e distorcer os fatos. Mais do que isso, homens e mulheres são habilidosos na arte de manipular, maquiar e omitir informações para construir suas narrativas. São ferramentas usadas na comunicação com grande potencial para criar histórias fictícias e versões diferentes para o acontecimento. É o que chamamos de recorte da realidade, que funciona como uma fotografia do momento, mas que pode ser ajustada conforme interesses, muitas vezes obscuros, e que provocam resultados calculados e que nem sempre condizem com os fatos reais. Assim nasce uma fake news no processo de comunicação descomprometido com a verdade. Um processo que surge contaminado pelos interesses políticos e econômicos, e quase sempre é afetado por ideologias.

Essas habilidades se tornam armas úteis nas mãos dos contadores de histórias. São narrativas criadas com propósitos variados, como o interesse de se projetar politicamente ou destruir reputações de eventuais concorrentes. Como arma de destruição, as fake news não são um fenômeno novo, e tão pouco se restringem às atividades das redes sociais. Elas sempre estiveram presentes na sociedade e na imprensa, que se disfarça no manto inexistente da imparcialidade. A comunicação em geral – jornalismo, marketing relações públicas e publicidade – utiliza-se desses recursos para manipular a opinião pública; criar manchetes com efeitos e mensagens subliminares; vender produtos; conquistar poder e fama; e criar necessidades a partir do desejo de consumo. Tudo isso faz parte do jogo da comunicação e do audiovisual, e a televisão nunca ficou fora disso. Por anos, a TV reinou como sendo uma das maiores fontes de produção de fake news, com eficiência aplicada dentro e fora dos lares.

Há mais de 70 anos a TV ocupa lugar de destaque na vida de milhões de brasileiros, e ainda se faz presente nos melhores espaços de residências, escritórios e áreas de lazer. Dos aparelhos portáteis, com imagem ainda em preto e branco, passando pelo advento que marcou a chegada da TV em cores no Brasil, no início dos anos 70, até a presença das grandes e finas telas de plasma ou LCD, o aparelho de televisão sempre foi um dos produtos mais cobiçados entre os consumidores. Por décadas, a caixa transmissora de som e imagem alcançou seu alto padrão de qualidade, e se popularizou no território até chegar nas áreas mais remotas e nos rincões da nação, onde antenas parabólicas captam o sinal de transmissão do satélite.

No país do futebol, famílias inteiras aprenderam a se reunir para assistir às telenovelas da Rede Globo, que logo se transformaram em paixão nacional. No passado, a exibição do último capítulo de uma produção chegava a parar a nação. Junto com atrações infantis, apresentadas por loiras coroadas como rainhas, e programas de auditório no fim de semana, a grade de programação da TV passou a fazer parte da rotina dos brasileiros. Por anos na liderança da audiência, a Globo se tornou a maior emissora de televisão do Brasil e um dos maiores grupos de comunicação do mundo. Assim, passou a deter monopólio da informação e, como um cavalo de troia dentro dos lares, entregou o entretenimento gratuito em canal aberto, mas ao custo de uma poderosa influencia no comportamento e nas atitudes das futuras gerações, que foram conscientes ou inconscientes submetidas ao marxismo cultural aplicado na grade de sua programação.

Nos tempos ainda distantes da internet, fomos obrigados a “ingerir” a informação engessada, enviesada e embrulhada em edições meticulosamente elaboradas para influenciar a opinião pública. Por anos, o jornalismo televisivo chancelou a veracidade dos fatos, que não podiam ser contestados ou comparados com outras fontes que deram origem a mesma informação. Hoje isso é possível graças aos milhões de usuários de redes sociais que, com suas câmeras apunhadas para registrar os acontecimentos, se transformaram em testemunhas dos fatos e produtores de conteúdo, dispensando os intermediários do jornalismo de plantão. A internet hoje acusada de ser propagadora de fake news se tornou espaço democrático para o fluxo de informações. O espaço virtual onde é possível produzir uma fake news é o mesmo onde a mentira e impostores são desmascarados no minuto seguinte.

Por isso, é preciso se perguntar quantas fake news foram disseminadas, e ainda são, no meio televisivo? Quais os interesses políticos e econômicos que se esconderam, e ainda se escondem, por trás das notícias dos telejornais totalmente imparciais? Quanto a verba pública influenciou, e influencia, na produção de uma notícia para um determinado canal de TV? Mais do que isso, devemos indagar por que querem calar as vozes dissonantes da internet? Será que o jornalismo produzido para a TV está livre de profissionais militantes dentro de suas redações? E por fim, o que se esconde por trás do explícito desejo de parte da mídia em censurar e controlar as redes sociais?

O fato é que neste atual governo a torneira que irrigava essa velha imprensa se fechou, especialmente para o canal de televisão que hoje tem seu nome associado à hashtag com o termo “lixo”, sempre a ocupar o topo da lista de assuntos mais comentados do Twitter. A internet mostra diariamente os profissionais dessa emissora sendo hostilizados nas ruas, seus telejornais com  índices de audiência em declínio, sua credibilidade ameaçada pela evidente empreitada em só querer derrubar o presidente e suas reportagens, com informações manipuladas, sendo desmascaradas diariamente por publicações que circulam nas redes sociais e em grupos nos aplicativos para troca de mensagens.

A verdade é que o maior grupo de comunicação do país, e que fez da televisão a maior fábrica de ilusão da América Latina, perdeu o monopólio da informação, e hoje parece agonizar no calvário da sua própria ruina. Para quem não tem compromisso com a verdade só resta agora investir forte na maquiagem da notícia, e torcer para essa funcionar e não borrar, porque como diz a apresentadora, “o choro é livre!”. ***

Zac Lucatelli – Jornalista, Mestre em Ciência Política e Professor de Mídias e de História da Televisão no Brasil.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *