Se no início do ano as estimativas de mercado apontavam para um dólar fraco em 2021, os dois primeiros meses mostraram o oposto. No Brasil, com uma valorização acumulada de 9,2% desde janeiro, o dólar subiu mais contra o real do que perante qualquer uma das principais moedas emergentes do mundo. 

Os principais motivos para apreciação da moeda, mais uma vez, se encontram em Brasília. Com as incertezas fiscais cada vez maiores, o aceno populista do presidente Jair Bolsonaro tem sido o estopim para reações enérgicas no mercado.

Desde que demitiu o presidente da Petrobras de forma intempestiva, o dólar acumula alta de 5,5%, a moeda americana subiu 1,17%, para 5,66 reais, após a confirmação de que a isenção dos impostos sobre o combustível será compensada pelo aumento da alíquota de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) dos bancos de 20% para 25%

“No fim, 300.000 caminhoneiros vão ter combustível subsidiado por tomadores de crédito, que vão ter que pagar mais caro. Se o nosso governo seguir nessa toada mais populista, o dólar pode ficar acima de 6 reais”, afirma Roberto Motta, chefe da mesa de derivativos da Genial Investimentos.

“Paulo Guedes ainda representa o pensamento que tivemos na eleição do Bolsonaro, de um Estado mais enxuto, de reformas. Sua saída seria muito ruim em todos os aspectos. É difícil o mercado passar por toda essa turbulência sem colocar prêmio nos ativos. Não se tem mais certeza do que pode acontecer”, diz Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama.

Para o economista, dado o “mau humor atual”, o patamar do dólar está “bem precificado”. “Mas é evidente que se as coisas caminharem pior, o dólar pode ir para perto de 6 reais.”

Até os 6 reais, porém, a moeda ainda tem três pontos de resistência para serem superados, segundo Lucas Claro, analista do BTG Pactual Digital. Seriam eles: 5,77 reais, 5,90 reais e só então os 6 reais.

Para conter a valorização desenfreada da moeda americana, o Banco Central vem intensificando sua atuação no mercado de câmbio. Nesta terça, a autarquia fez dois leilões à vista, chegando a reduzir a alta que chegou a superar 1,5% no pregão. 

Mas, segundo Lucas Claro, essas intervenções já não estão surtindo o mesmo efeito. “O mercado está com menos medo do Banco Central nos últimos dias. Se falasse, semanas atrás, de ficar comprado com o dólar a 5,50 reais, haveria algum receio da atuação do Banco Central. Hoje a moeda bateu em 5,74 reais”, diz.

Exterior

Mas, além do cenário interno, o exterior também vem afetando a alta da moeda.

No início do ano, o esperado aumento de políticas de estímulo com a posse de Joe Biden nos Estados Unidos era um dos argumentos de quem defendia que iria acontecer a queda do dólar. Porém as consequências da injeção de dinheiro se tornou uma das ameaças à tese, com a perspectiva de inflação elevando os rendimentos dos títulos americanos de longo prazo ao maior valor em 12 meses na última semana.

“Os títulos americanos são conhecidos por serem a taxa livre de risco, o porto seguro do mundo. Se o título está pagando bem, o investidor vai alocar recursos lá em vez de em países emergentes”, explica Claro. 

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